A Economia Emocional
O desempenho econômico é em grande parte mental, embora não necessariamente racional. As emoções têm uma forte presença na tomada de decisões econômicas. Os economistas do passado quase ignoram o papel do irracional nas decisões econômicas. Em vez disso, eles explicavam os eventos econômicos como resultado de pessoas que exercem com racionalidade seus próprios interesses. Essa explicação não leva em conta os maciços deslocamentos econômicos. Ela afirma que o desemprego generalizado não deveria existir porque trabalhadores que buscam racionalmente seus próprios interesses deveriam aceitar salários mais baixos de acordo com o valor da produção. Salários e preços se ajustam, o mercado se estabiliza e o desemprego desaparece. No entanto, não é o que acontece.
“As pessoas têm motivações não-econômicas. E elas não são sempre racionais na busca de seus interesses econômicos.”
John Maynard Keynes disse que um cálculo racional não poderia ser responsável por decisões econômicas como a abertura de uma mina, a construção de uma fábrica ou de um prédio de escritórios. Os dados sobre o retorno a longo prazo sobre esses investimentos é insuficiente para sustentar um cálculo verdadeiramente racional. Keynes escreveu que tais decisões “só podem ser tomadas como resultado de espíritos animais”.
Espíritos Animais: Convicção e Equidade
A palavra “convicção” aparece com frequência na literatura de negócios. Economistas enfatizam o elemento preditivo: convicção significa uma expectativa de um futuro brilhante. Mas não é a única maneira de ser utilizada quando se discute dinheiro. Na verdade, o uso comum enfatiza confiança e crença. O ex-CEO da General Electric, Jack Welch, disse certa vez que fazer planos de negócios e projeções racionalmente analíticos não era para ele. Ele disse que as decisões importantes nos negócios vinham “diretamente da intuição”. Na crise econômica a partir de 2008, uma ausência de confiança no sentido mais popular paralisou os mercados de crédito a partir do momento que os credores não teriam certeza de que seriam reembolsados. A falta de confiança pode minar as políticas econômicas.
“Mas, no nível da macroeconomia (...) a confiança vai e vem. Às vezes, com razão. Às vezes não. Não é apenas uma previsão racional.”
Os fatores que determinam salários no mundo real parecem muito diferentes daqueles especificados na teoria econômica neoclássica, que tende, por exemplo, a ignorar a equidade como um factor determinante na decisão financeira. Experimentos econômicos mostram que as percepções sobre justiça afetam o quanto as pessoas vão pagar pelas coisas, indo de encontro a seus interesses econômicos pessoais e racionais para punir aquilo que veem como injusto. A justiça parece influenciar a confiança e cooperação. Isso também contribui para o desemprego, porque as empresas preferem não pagar salários baixos, pois poderiam ser percebidos como injustos (mesmo se os trabalhadores estivessem dispostos a aceitá-los).
O Lado Negro
O capitalismo produz tudo o que as pessoas estejam dispostas a comprar. Se quiserem pagar por mercadoria de má qualidade, o capitalismo vai produzi-la. Por exemplo, embora as pessoas saibam que devem poupar para garantir a educação e aposentadoria, a história econômica recente dos EUA demonstra que maioria delas está disposta a pagar por títulos, cujo valor depende de contabilidade fraudulenta e má divulgação. O capitalismo então fornece tais títulos: executivos e gestores de fundos estão dispostos a oficializar fraudes na contabilidade e investimentos inadequados, sempre que houver pessoas dispostas a aceitá-los.
“A crise não foi prevista e não é ainda totalmente compreendida (...) porque não há princípios nas teorias econômicas convencionais que expliquem os espíritos animais.”
Crises acontecem quando o risco moral mina a confiança. A crise na poupança e empréstimo dos anos 80 surgiu porque os empresários do ramo fizeram investimentos de risco, sabendo que o governo iria salvá-los. Os gestores da Enron e de outras empresas corruptas abusaram das práticas contábeis ardilosas e da credulidade pública para deturpar seu desempenho. Práticas similares em relação às hipotecas de alto risco (subprime) e outros instrumentos obscuros de investimento também levaram à recessão. Os agentes hipotecários emprestaram a pessoas que não podiam pagar, mas os credores não se importavam desde que vendessem os empréstimos. Nos processos de avaliação de crédito, os participantes serviam aos seus próprios interesses, minimizando os riscos reais. Todos estes casos resultaram no tipo de erosão da confiança que pode aprofundar as recessões.
“A Ilusão do Dinheiro”
A ilusão monetária irracional é um aspecto dos espíritos animais. Em seu livro de 1928, A Ilusão do Dinheiro, Irving Fisher deu um exemplo de uma mulher cuja ilusão era de que sua carteira de títulos de $ 50.000 ainda valesse tanto quanto havia valido anos antes. Certamente, o valor nominal era o mesmo, mas a inflação tinha corroído seu poder de compra real. Na década de 1960, economistas como Paul Samuelson, assumiram que os trabalhadores (sujeitos à ilusão monetária) iriam negociar salários nominais ao invés de reais. Milton Friedman discordou e disse que os trabalhadores não estavam sujeitos à ilusão do dinheiro e levou em conta a inflação nas negociações salariais. Os dois especialistas foram um pouco além demais. Os trabalhadores realmente esperam que as negociações salariais os protejam da inflação. Contudo, cláusulas de dívida, contratos salariais e até mesmo demonstrações financeiras das empresas muitas vezes não incluem ajustes de inflação. Além disso, as pessoas resistem a cortes salariais quando os preços caem, mesmo à custa dos seus empregos. Desta forma parece existir sim certa ilusão monetária.
O Impacto das Histórias
As pessoas vivem em função de histórias. Críticos literários que analisam padrões de histórias acham que a maioria das milhares de histórias de pessoas no mundo afora se encaixam em alguns padrões simples. Estas histórias são fundamentais para entender como as pessoas pensam. Algumas pesquisas sugerem que o sucesso dos casamentos sólidos atribui-se à história que um casal constrói com seu relacionamento. Os líderes políticos podem ascender e cair com base na sua capacidade de inspirar seguidores com histórias. No entanto, os economistas convencionais ignoram histórias e até mesmo sugerem que fundamentar análises econômicas em histórias leva ao descrédito. A Economia convencional procura fatos quantitativos demonstráveis. Ela não permite que a história em si possa ser o fato fundamental. Por exemplo, as histórias podem inspirar confiança. A história da Internet, uma variação da história de uma nova era, turbinou uma das maiores bolhas da história do mercado de ações.
Explicando uma Depressão
Os EUA tiveram duas graves depressões nas décadas de 1890 e 1930. A depressão da década de 1890 envolveu um colapso da confiança, ilusões monetárias penetrantes que impediram respostas racionais à queda dos preços e histórias focadas em corrupção, falhas e injustiça. A ilusão monetária alimentou a campanha presidencial de William Jennings Bryan, que conclamou todos a uma política monetária expansionista e inflacionária. A corrida aos bancos ocorreu quando as pessoas espalharam histórias de fragilidade financeira. A Grande Depressão apresentou os mesmos elementos. Durante os anos 20, histórias de grandes ganhos no mercado levaram as pessoas a especular em ações. Após o crash de 1929, abundavam histórias de manipulação injusta ou corrupta do mercado.
O Poder dos Bancos Centrais
Os presidentes dos bancos centrais têm poder limitado e as histórias sobre sua capacidade de gerir a oferta da moeda através de descontos e operações de mercado aberto são verdadeiras apenas em parte. A visão comum assume que as pessoas façam depósitos à vista para atender às necessidades das transações. No entanto, esse raciocínio omite o fato de que as pessoas podem satisfazer suas necessidades de outras maneiras. Em uma crise, o poder mais crítico de um banco central está em agir como um emprestador de última instância. Por exemplo, o Federal Reserve dos EUA lidou com a falência iminente da Bear Stearns fornecendo liquidez.
Calamidades Atuais
A crise econômica de 2008-2009 foi bastante difundida. Bancos de investimento que pareciam sólidos faliram. Os consumidores nos EUA não estão comprando e não conseguem obter empréstimos. O crédito é restrito. Esta crise de crédito existe, em parte, por causa da ascensão de um novo sistema financeiro estruturado por securitização e derivativos. Até recentemente, as pessoas contavam histórias entusiasmadas sobre estes instrumentos. Mas as histórias agora são de corrupção e desonestidade. A confiança diminuiu. Os modelos econômicos convencionais não tratam a confiança, e para reconstruí-la, os legisladores precisam de uma meta de crédito, além das metas monetárias e fiscais convencionais. A meta de crédito deve ser o montante de crédito na economia em pleno emprego. Medidas monetárias e fiscais precisam de mais crédito para alcançar seus objetivos econômicos.
Por Que Pode Ser Difícil Encontrar Emprego
A explicação convencional de desemprego não leva em conta as pessoas que querem trabalhar mas não conseguem encontrar emprego. Ela diz que as pessoas podem sim conseguir empregos se estiverem dispostas a receber menos, assim como qualquer pessoa geralmente consegue vender uma casa reduzindo o preço. Em contraste, a Teoria do Salário-Eficiência afirma que os empregadores temem que pessoas contratadas com salários mais baixos possam se ressentir da falta de equidade das suas remunerações e assim minar a produtividade. Ou seja, os empregadores pagam mais do que o necessário por causa da equidade. O economista John Dunlop constatou que os motoristas de caminhão têm um amplo espectro de salários, dependendo das entregas. Outro estudo encontrou grandes variações salariais não relacionadas com diferenças na formação ou habilidade.
Problemas da Poupança
As decisões relacionadas com a poupança dependem dos espíritos animais. As pessoas no início de suas carreiras têm dificuldade em imaginar o que vão querer na aposentadoria. A teoria econômica convencional diz que devemos equilibrar poupança e investimento dentro de cálculos racionais. Mas a visão individual sobre a necessidade de poupar molda o quanto realmente se economiza.
Por Que o Mercado Parece Que Enloqueceu
A Teoria da Eficiência de Mercado diz que as pessoas tomam decisões racionais sobre o desempenho futuro da bolsa com base nos dados e que os preços se ajustam de acordo. No entanto, a ideia de que os preços das ações representam respostas racionais às informações parece insustentável. Investidores corporativos, tais como Jack Welch, valorizam a confiança, a crença e “a emoção de poder criar o futuro”. Não falam de equações e projeções. Os espíritos animais trabalham com afinco nos mercados. A Toyota deve seu sucesso aos espíritos animais japoneses e fatores ligados a histórias de confiança, identidade e pertença. A antiga indústria automotiva Kaiser Argentina deve seus violentos conflitos trabalhistas aos espíritos animais daquele país, incluindo histórias de corrupção e exploração.
Por Que É Que os Afroamericanos Não Estão em Melhor Situação?
As minorias, como os afroamericanos e os índios têm uma história muito diferente para contar sobre a América do que os brancos. Os brancos descrevem a América como um lugar competitivo, difícil, onde são individualmente responsáveis por seus resultados porque o sistema é basicamente justo. Os afroamericanos, no entanto, contam a história de um sistema injusto, conduzido pelos brancos. Como veem a sociedade como injusta, trabalhar ali traz desafios psicológicos. A ação afirmativa é uma forma importante de lidar com a história da injustiça, uma vez que mostra que a maioria da população está tentando tornar o sistema mais justo, dando às minorias razões para acreditar que podem conseguir uma mudança real.
“Escolha qualquer época. Escolha qualquer país (...) e verá em funcionamento na macroeconomia os espíritos animais que são o assunto deste livro.”
Economia convencional é útil, mas um cálculo econômico que despreze os espíritos animais não pode enfrentar os principais desafios econômicos. A crise financeira de 2008-2009 é uma crise de confiança. Trata-se de histórias e percepções de equidade. A história de um mercado eficiente cheio de tomadores de decisão racionais não consegue captar essa realidade.