Bem Comum

Livro Bem Comum

Economia para um Planeta Superpovoado

Penguin,
Também disponível em: Inglês


Recomendação

O renomado economista Jeffrey Sachs consegue trazer uma péssima notícia de uma forma otimista. Sim, a Terra enfrenta terríveis ameaças de aquecimento global, pobreza, guerras, des­mata­mento e extinção em massa de espécies. No entanto, Sachs afirma que estes graves problemas são administráveis. Corrigi-los vai custar US $ 840 bilhões – de fato uma quantia enorme, mas que, como argumenta Sachs, representa apenas 2,4% do PIB dos países ricos. Sachs não se omite de pro­nun­ci­a­men­tos po­liti­ca­mente sensíveis. Ele argumenta contra a guerra dos EUA no Iraque e a favor da legalização do aborto. Ainda assim, o livro atinge o equilíbrio improvável de entregar uma mensagem que é ao mesmo tempo assustadora e promissora. A BooksInShort recomenda este livro para quem procura insights sobre os problemas mais urgentes do mundo.

Ideias Fun­da­men­tais

  • O mundo está su­per­povoado, caótico e perigoso, enquanto a ecologia global se encontra à beira de um colapso.
  • Os seres humanos estão consumindo os recursos da Terra a um ritmo sem precedentes.
  • China, Índia e Brasil, nações an­te­ri­or­mente pobres, estão crescendo a um ritmo alucinante, aumentando a renda, mas também acelerando os danos ambientais.
  • Quase todo o crescimento pop­u­la­cional ocorrerá em países pobres que são menos capazes de absorver os recém-nascidos.
  • A atividade humana está mudando o clima da Terra.
  • Um crescimento pop­u­la­cional mais lento nos países em de­sen­volvi­mento é crucial para restaurar o equilíbrio no planeta.
  • A água é um recurso cada vez mais escasso e será uma fonte de conflito.
  • A carne é um modo am­bi­en­tal­mente ineficiente e prejudicial de alimentar o mundo.
  • A perspectiva é terrível, mas ainda há algumas razões para sermos otimistas; a humanidade pode resolver os problemas do globo.
  • Redi­re­cionar a utilização do meio ambiente para que a Terra possa ser mais saudável e menos caótica exigiria um in­ves­ti­mento de apenas 2,4% do PIB dos países ricos.
 

Resumo

O Futuro Incerto da Economia e da Ecologia

O mundo tornou-se um lugar cada vez mais lotado, caótico e perigoso. As populações globais estão aumentando, par­tic­u­lar­mente as nações pobres menos capazes de alimentar e sustentar o número crescente de pessoas. A ecologia global está à beira do colapso. O equilíbrio global de poder está mudando. O início do século XX marcou o fim da dominação europeia e neste século vamos ver o fim da hegemonia dos EUA. China, Índia e Brasil estão emergindo como potências mundiais. E as incursões equivocadas dos USA no Vietnã e Iraque provaram a insensatez da decisão unilateral tomada com base na força bruta. Da forma como as coisas estão caminhando, o mundo poderá mergulhar facilmente em uma mistura tóxica de conflito sangrento, pobreza, desastres naturais e sofrimento gen­er­al­izado.   Para evitar esse destino – que é muito provável se o mundo continuar no caminho atual – os líderes mundiais devem aceitar o fato de que todos no planeta vivem a mesma situação. Os países ricos não podem mais ignorar os países pobres. O mercado livre não é a melhor e única solução. In­fe­liz­mente, os riscos são graves. Felizmente, as soluções estão à mão. Alterações climáticas e catástrofes nos assombram, ainda assim estão disponíveis sistemas sustentáveis de energia e de de­sen­volvi­mento. A população mundial está em rápida expansão, mas simples cortes nas taxas de natalidade poderiam estabilizar os números. Muitos milhões vivem em pobreza absoluta, contudo in­ves­ti­men­tos modestos por parte dos países ricos acabariam com a “armadilha da pobreza”. O planeta enfrenta seis tendências de mudança:

  1. Países mais pobres estão en­rique­cendo – A diferença da renda entre Europa e América do Norte e o resto do mundo está em “convergência”. As economias mais de­sen­volvi­das crescem lentamente, mas China, Índia e Brasil ex­per­i­men­tam crescimento galopante.
  2. A população mundial de 6,6 bilhões continua a crescer – Esse número precisa se estabilizar em oito bilhões por volta de 2050.
  3. A maioria das pessoas vive agora nas cidades – Os pobres estão deixando as fazendas e se aglomerando nas cidades.
  4. A Ásia vai ex­per­i­men­tar crescimento mais rápido – O equilíbrio do poder econômico vai mudar do Hemisfério Ocidental para o Oriental.
  5. A atividade humana vai continuar a alterar o meio ambiente – As ações humanas têm causado o aquecimento global. Neste planeta su­per­povoado, as decisões individuais afetam o mundo natural.
  6. A de­sigual­dade sócio-econômica continuará a aumentar – Enquanto algumas nações crescem ver­tig­i­nosa­mente, milhões de pessoas mal conseguem subsistir na África subsaariana.

Escassez de Recursos

  A humanidade está esgotando os recursos da Terra a um ritmo assustador. O uso da água e dos combustíveis fósseis e a ocupação da terra no ritmo atual é insustentável e insensato. No entanto, ainda há esperança. Ao ajustar o uso dos recursos naturais, é possível racionar os escassos recursos da Terra por séculos. Veja os combustíveis fósseis: as fontes tradi­cionais (petróleo, carvão, gás natural) são finitas, mas não são as únicas fontes. A Terra possui vastas reservas de areias de alcatrão e óleo de xisto e já existe tecnologia para utilizá-los. O esgotamento dos recursos naturais não é uma novidade na história humana. Há cerca de 11.000 anos atrás os nativos americanos levaram mamutes, cavalos e bisões à extinção. O de­sa­parec­i­mento dos animais travou o crescimento da população dos povos indígenas. Hoje em dia a humanidade está repetindo os erros dos americanos nativos. Conforme as pessoas se tornaram mais ricas, passaram a exigir mais espaço e melhor alimentação. Abriram enormes faixas de terra eco­logi­ca­mente cruciais para servir de pastagens de gado. As pessoas estão consumindo mais recursos escassos do que deveriam.   A água é um recurso em diminuição par­tic­u­lar­mente importante. Os grandes rios de outrora, como o Amarelo, Ganges e Rio Grande não conseguem mais chegar aos seus destinos. O aquecimento global promete agravar os problemas com a água. As áreas tropicais vão ficar cada vez mais húmidas, devido a chuvas mais pesadas e inundações. Áreas secas vão ficar cada vez mais secas. Não é por acaso que alguns dos países mais pobres e instáveis do mundo carecem de água e con­se­quente­mente de alimentos. Somália, Etiópia e Quênia têm sido es­pe­cial­mente atingidos. A escassez vai também continuar a assolar o Oriente Médio, Ásia Central, norte da China e sudoeste dos Estados Unidos. Muitas pessoas estão pagando o preço de outras maneiras. Os peixes estão de­sa­pare­cendo. Animais estão em vias de extinção. Zonas húmidas estão sendo vítimas da “desertificação”. Seis medidas a serem tomadas poderiam preservar a tão necessária bio­di­ver­si­dade:

  1. Proteger os habitats – Criar mais parques e habitats, áreas marinhas protegidas e até mesmo estações par­tic­u­lares de ecoturismo.
  2. Evitar o des­mata­mento – O mundo compra madeira da floresta amazônica, mas diz que o Brasil favorece o des­mata­mento. Em vez disso, o mundo de­sen­volvido deve pagar aos países pobres para que não cortem suas árvores. Apesar do tratado de Kyoto permitir que países sejam pagos para reflorestar, não há incentivos para se evitar o des­flo­resta­mento.
  3. Melhorar os rendimentos agrícolas – Práticas agrícolas imprudentes ocupam mais terra do que o necessário. Terras mais produtivas equivalem a menos hectares desmatados para o cultivo, gerando um equilíbrio entre as ne­ces­si­dades alimentares e ecológicas.
  4. Fertilizar com mais cuidado – Grande parte do fer­til­izante aplicado nas lavouras escorre para os rios, de­sen­vol­vendo algas que ameaçam os peixes. Métodos mais modernos de aplicação de fer­til­izantes no subsolo evitariam resíduos e danos ambientais.
  5. Comer menos carne – A carne é uma forma ineficiente de nutrição. O gado consume muita vegetação. Produzir um quilo de carne requer 13 kg de grãos. O preço da carne não reflete esta realidade. Substituir a carne por proteínas vegetais é eco­logi­ca­mente correto, além de ser uma política de saúde pública inteligente que pode diminuir a obesidade e diabetes.
  6. Abraçar a pis­ci­cul­tura – A pesca marítima está exaurida, mas os pescadores comerciais continuam utilizando práticas destrutivas. Assim como a “revolução verde” da Índia, o mundo precisa de uma “revolução azul” para aumentar a criação de peixes.

Retardando o Crescimento da População

  Para retardar o rápido esgotamento dos recursos, os líderes mundiais devem retardar o crescimento da população. Se isto é possível é uma questão de debate constante. Alguns argumentam que a inovação tecnológica permitirá que o mundo se adapte a um número infindável de pessoas. Os mais pessimistas acreditam que os seres humanos vão continuar a pilhar e saquear o planeta. Entre eles estão aqueles que percebem que a humanidade pode controlar e racionalizar os recursos naturais e sobreviver, mas apenas diminuindo a sangria dos recursos da Terra e o crescimento pop­u­la­cional. As taxas de natalidade do primeiro mundo já caíram a ponto das suas populações se manterem estáveis. Mas as populações continuam a inchar no terceiro mundo. Nove elementos comprovados podem retardar o crescimento da população:

  1. Baixas taxas de mortalidade infantil – Quando os bebês são propensos a morrer, os pais têm mais crianças para garantir que alguns sobrevivam. Mas, quando sabem que seus bebês vão viver, os pais tendem a ter menos filhos.
  2. Escolarização para meninas – As taxas de natalidade caem quando meninas frequentam escolas secundárias, onde aprendem que não precisam ter bebês cedo demais.
  3. Proteção legal para as mulheres – Em sociedades com menores taxas de natalidade, as mulheres têm maiores opor­tu­nidades de se educar, encontrar empregos e fi­nan­cia­mento seguro para seus em­preendi­men­tos. Como profis­sion­ais, passam a ter menos filhos. A viabilidade econômica e educação continuada também reduzem a violência doméstica.
  4. Serviços de plane­ja­mento familiar – Em países muito pobres, mesmo os casais que prefiram famílias menores têm poucas al­ter­na­ti­vas. Sem métodos de contracepção e plane­ja­mento familiar, as famílias não conseguem reduzir suas taxas de natalidade.
  5. Fazendas mais produtivas – Quando as fazendas de subsistência rendem mais, o agricultor (na África, geralmente a mulher da família) motiva-se para se concentrar na agricultura, investir em seus filhos e assim constituir famílias menores.
  6. Menor êxodo rural – As crianças são ativos para famílias de agricul­tores que valorizam o trabalho. Nas cidades, as crianças tornam-se um passivo.
  7. Legalização do aborto – As nações onde o aborto é legalizado apresentam menores taxas de natalidade e menores taxas de mortalidade das mulheres.
  8. Planos de pensão – Pais pobres têm muitos filhos para serem apoiados na velhice. Quando sabem que o governo irá apoiá-los no futuro, as taxas de natalidade caem.
  9. Costumes sociais – Há sociedades em que se espera que as mulheres comecem a ter filhos cedo, mas os governantes podem interferir, ajudando a mudar os valores culturais para que estimulem famílias menores.

Investindo na Correção dos Problemas Mundiais

  Resolver os problemas das mudanças climáticas, degradação ambiental e pobreza extrema não será fácil ou barato. Mas as soluções estão ao alcance da humanidade e dentro do orçamento do mundo de­sen­volvido. O mundo rico gera um PIB de US $ 35 trilhões. Uma pequena parte dessas riquezas poderia resolver os problemas do planeta. Veja como:

  • Desaceleração das mudanças climáticas através da adoção de energia sustentável – 1% do PIB dos países ricos.
  • Ajudar as áreas pobres com mudanças climáticas – 0,2% do PIB dos países ricos.
  • Conservação das áreas para a Bio­di­ver­si­dade – 0,1% do PIB dos países ricos.
  • Combate à “desertificação” através da gestão da água em áreas pobres – 0,1% do PIB dos países ricos.
  • Redução do crescimento pop­u­la­cional através de amplo acesso ao plane­ja­mento familiar – 0,1% do PIB dos países ricos.
  • Ciência para o de­sen­volvi­mento sustentável – 0,2% do PIB dos países ricos.
  • Ajuda para retirar os países mais pobres da “armadilha da pobreza” – 0,7% do PIB dos países ricos.
  • Total – 2,4% do PNB dos países ricos, ou US $ 840 bilhões.
“O desafio deste século será enfrentar o fato de que a humanidade compartilha um destino comum num planeta su­per­povoado.”

  Em termos políticos, é um valor enorme. Mas con­siderando que a própria sobrevivência da humanidade está em jogo, o preço parece de fato acessível. Os que criticam as soluções para as alterações climáticas, degradação ambiental e crescimento pop­u­la­cional de­scon­tro­lado levantarão inúmeros argumentos contra quaisquer esforços para lidar com estas questões. São três os seus principais argumentos. Primeiro, a “futilidade”, pois o problema não pode ser resolvido. Em segundo lugar, a “maldade”, ou a ideia de que a tentativa de corrigir esses problemas só pode agravá-los. E, em terceiro lugar, o “risco”, aplicar recursos a estas questões poderá desviar recursos de outras prioridades. Tais atitudes pessimistas não levam em conta que estas questões podem e devem ser tratadas, para o bem da humanidade.   Você pode fazer a diferença, através de oito ações em prol do planeta:

  1. Informe-se – Leia publicações como Nature, Science, New Scientist e Meio Ambiente. Faça cursos. Aprenda mais sobre mudança climática, crescimento pop­u­la­cional e política.
  2. Viaje – Exponha-se a outras pessoas e aos problemas que enfrentam. Viajar irá ajudar você a entender que o destino de todas as pessoas está interligado.
  3. Crie ou participe de uma organização – Se o seu objetivo for impedir a propagação da malária, melhorar a saúde pública ou outro objetivo nobre, procure pessoas com o mesmo pensamento.
  4. Inspire os outros – Espalhe sua mensagem, estimulando os outros a agir.
  5. Utilize as redes sociais – A Internet pode unir as pessoas.
  6. “Pressione” os políticos – Cer­ti­fique-se de que seus rep­re­sen­tantes eleitos assumam a re­spon­s­abil­i­dade de abordar estas questões.
  7. Leve sua mensagem para o escritório – Torne-se uma voz ativa a favor das práticas em­pre­sari­ais responsáveis no seu local de trabalho.
  8. Viva segundo os valores que defende – Tome decisões em sua vida pessoal que reflitam o seu compromisso com a sus­tentabil­i­dade.

Sobre o autor

Economista respeitado in­ter­na­cional­mente, Jeffrey Sachs é diretor do The Earth Institute da Uni­ver­si­dade Columbia. Ele é conselheiro especial do Secretário-Geral da ONU Ban Ki-moon sobre Objetivos das Nações Unidas para o De­sen­volvi­mento neste Milênio. Sachs também escreveu o livro O Fim da Pobreza.